Ela está no meio de nós

16/10/2021

ELA ESTÁ NO MEIO DE NÓS

Roberto Remígio Florêncio

Editorial da Revista Ouricuri (UNEB), vol. 11, nº 1, 2021

https://www.revistas.uneb.br/index.php/ouricuri/article/view/12787

file:///C:/Users/Professor/Downloads/12787-Texto%20do%20artigo-36482-1-10-20210915%20(4).pdf

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Desde quando se olha o céu, admirando a imensidão de estrelas na escuridão da noite, Ela está lá. Visto que já se faziam isso há centenas, milhares, quicá, milhões de anos. Ela sempre esteve entre nós e, muito provavelmente, sempre estará.

O olhar contemplativo, reflexivo, comprobatório ou desobediente está em todas as coisas e causas para se confirmar a Sua existência, não somente como fato, mas como dúvida, como descobrimento, arrefecimento e desconstrução. E, ainda que nada disso chegue a existir, Ela estará ali, do lado, orientando o caminho.

Desde que se construíram a primeira obra da engenharia, da comunicação, da medicina, do comércio, Ela sempre esteve presente, atualizando fatos, construindo tendências, corrigindo defeitos, possibilitando retornos. Entre as atividades técnicas ou práticas, das ciências ou das artes, do possível e do imaginável, resta-Lhe o principal alcance do pódio, a cereja do bolo, o ponto final (ou as reticências) do texto. Ela é mãe e filha dos textos.

É possível dizer que a história da evolução das ciências e da própria evolução humana se deu/dá/dará através da produção de textos, sejam em compêndios teóricos, constantes dos anais informativo-científicos, ou nas conversas informais, subjugadas como oralizações. Na verdade, excetuando-se a função fática da linguagem, conquanto também digna de estudos, é também na oralidade humana (tanto quanto na escrita, na filmagem, nas imagens captadas por diferentes dispositivos tecnológicos, na virtualidade das redes) que investigadores e investigadoras descrevem, contam e analisam impressões subjetivas, dados fidedignos, histórias, perspectivas, vidas. Evidentemente, sem a perda do rigor necessário ao conhecimento que Ela representa, é através de relatos de experiências individuais e interação discursiva sobre os significados dessas experiências, que se produz o Seu principal constructo: as relações.

Segundo Croswell (2012), "contar histórias é uma parte natural da vida, e todos os indivíduos têm histórias sobre suas experiências para contar aos outros" (CROSWELL, 2012, p. 503). Mais categóricos, Amado e Ferreira (2013) classificam essas relações como um meio de transferência de informações, com interferências intencionais, abastado de nuances subjetivas e preciosas, cara a cara, entre as vistas (FLORÊNCIO et al. 2019).

Nestas teorias, a visão de mundo está atrelada ao estudo da conduta humana, que tem como objetivo compreender o mundo das experiências vividas através do ponto de vista daqueles que nele vivem, inclusive não humanos: peixes, plantas, pedras, possibilidades. Observadores e observadoras devem buscar compreender as relações estabelecidas pelos atores (sujeitos ou assujeitados) no cenário social (ambiental ou onírico) e procurar interpretar o sentido de cada ato, no contexto em que se inserem, seja no tempo ou no espaço, de acordo com as palavras de Tedeschi e Pavan (2017). Todos os espaços são dignos da Sua presença, pois Ela é criadora e criatura de ambientes, sejam naturais, antrópicos, virtuais, criados artificialmente ou sem artifício nenhum.

Todos os espaços (seres e coisas), de verdade e sem perceber, necessitam da Sua presença: a NASA, a escola de primeira à quarta série, o hospital criado às pressas para auxiliar no combate à pandemia, outra revisão histórica da Segunda Guerra Mundial, o livro de poemas sem métrica e sem rima da contemporaneidade ou a rotina do povo empobrecido pela sociedade (também por Ela fundada e fundamentada), marginalizado pelo excludente sistema de produção, inclusive do conhecimento. Embora Ela seja presença demasiadamente constante na performance contestatória do que está posto como incontestável, tanto pelas ciências humanas e quanto pelas desumanas. E, feliz ou infelizmente, o ensino em nível superior (ainda inacessível para uma grande parcela da população mundial) detém (nos sentidos de possuir e de suportar (HOUAISS, 2021)), "democraticamente", a Sua - ainda que imperecível e onipresente - frágil existência.

REFERÊNCIAS

AMADO, João; FERREIRA, Sónia. A Entrevista na Investigação Educacional. In: Manual de Investigação Qualitativa em Educação. Coimbra: Universidade de Coimbra, 2013.

CRESWELL, John W. Educational Research: planning, conduction anda evaluating quantitative and qualitative research. (Pesquisa Educacional: planejamento, condução e avaliação de dados quantitativos e pesquisa qualitativa.) 4 ed. Boston: 2012.

HOUAISS, Antonio. Dicionário on-line. Acessado em: https://www.dicio.com.br/houaiss/ Entre maio de junho de 2021.

FLORÊNCIO, Roberto Remígio; SANTOS, Carlos Alberto Batista: OLIVEIRA, Ana Cristina Barbosa. Métodos e Técnicas de Pesquisa em Educação. Revista Rios eletrônica (UNIRIOS), nº 21, 2019.

TEDESCHI, Sirley Lizott, PAVAN, Ruth. A produção do conhecimento em educação: o pós-estruturalismo como potência epistemológica. In: Práxis Educativa. Ponta Grossa: vol. 12, nº 3, 2017. 

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