A ludicidade na Educação Infantil

29/06/2020

Artigo Completo em:

A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA 

(Revista Ouricuri, UNEB, ISSN 2317-0131, vol. 9 n. 2, 2019)

FLORÊNCIO, Roberto Remígio; RODRIGUES, Cristiane Coelho; OLIVEIRA, Marcleide Sá Miranda OLIVEIRA 

Instituto Federal de Educação do Sertão Pernambucano, Campus Zona Rural; Universidade Federal do Vale do São Francisco; Secretaria Municipal de Educação Cultura e Esporte de Petrolina.


INTRODUÇÃO 

A função dos jogos e das brincadeiras lúdicas na Educação Infantil tem sido bastante discutida no âmbito da produção técnico-científica, principalmente quando se trata da relação entre os jogos de brincadeiras e o desenvolvimento físico-motor da criança. Os estudos partem do ponto de vista antropológico e tem seu foco principal nas análises dos jogos enquanto processo histórico, a partir da imagem da Kishimoto (2003). Estudos a respeito levam em consideração, principalmente, a vivência cotidiana determinada pelo ambiente vivenciado pela criança. Neste sentido, o lugar onde as crianças habitam forma o seu contexto sociocultural e o tipo de educação permitida a ela. As relações que ela vivencia com as pessoas de seu convívio é que permitem a compreensão do cotidiano infantil. É, portanto, por meio dessa compreensão que se constrói a imagem da criança e a determinação de sua forma de brincar. Uma vez que cada indivíduo tem o seu cotidiano marcado por uma grande diversidade de valores que caracterizam suas ações sociais e o processo cultural de cada época dentro da construção das pessoas que fazem parte do contexto social. Kishimoto (2003) define a participação do sujeito em sua vida cotidiana quando envolve todos os seguimentos da vida e permite a construção de sua própria individualidade. Tais aspectos contribuem para o funcionamento dos sentidos, capacidade intelectual, paixões, ideias e habilidades manipulativas. Surgiu assim a vontade de investigar a contribuição das brincadeiras lúdicas na Educação Infantil como elo entre os problemas e a solução, orientando o trabalho dos professores de Educação Infantil nos resultados do desenvolvimento de seus alunos. Desse modo, o objetivo principal desta pesquisa é compreender a importância das brincadeiras lúdicas, como recurso pedagógico na Educação Infantil e, especificamente, identificar as interferências que as brincadeiras lúdicas proporcionam à criança na infância. Por isso, acreditamos que o estudo é de grande relevância para a comunidade científica porque poderá propiciar aos leitores a superação de algumas lacunas sobre a utilização dos jogos e brincadeiras lúdicas na Educação Infantil, assim como auxiliar os professores no processo de interação e aprendizagem das crianças e na construção de ações lúdicas para a prática docente.

A abordagem sobre a importância da ludicidade na Educação Infantil deixa claro que o desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicomotor das crianças, que desde pequenas têm participação ativa no cotidiano escolar, permite crianças ativas no seu próprio processo educativo, pois elas constituem uma imagem positiva de si, atuando no meio de forma independente e curiosa, na medida em que se percebem como integrantes transformadoras deste ambiente. 

O lúdico na aprendizagem: relação teoria e prática 

O processo de aquisição do conhecimento envolve sujeitos, organização, planejamento, instrumentos e ferramentas didático-pedagógicas, entre outros elementos imprescindíveis ao desenvolvimento da prática pedagógica, cujo objetivo principal é a aprendizagem, que só acontece de forma significativa quando os sujeitos envolvidos estão preparados e motivados para enfrentar o desafio de ensinar e aprender, considerando que a aprendizagem deve ser um processo ativo e dinâmico em que os indivíduos não são simples receptores passivos, mas processadores ativos da informação. Na Educação Infantil, o professor exerce um papel de grande importância na contribuição do desenvolvimento, considerando que é ele quem vai auxilar no processo de construção do conhecimento da criança e, por isso, precisa compreender como se dá essa construção em cada estágio de desenvolvimento e num processo de interação, agir como mediador entre o educando e o conhecimento. Soares (2010) defende que o professor, além de conhecer as teorias, precisa estabelecer um intercâmbio constante entre o conhecimento teórico e a prática pedagógica, uma vez que, sua mediação é exercida através de uma prática pedagógica construída com cada momento do processo, em cada circunstância específica em que ele ocorre, de acordo com história pessoal de cada criança (p. 43). 

Isso implica dizer que o professor precisa estar preparado, ter uma formação adequada, ter o conhecimento teórico e aplicá-lo na sua prática pedagógica. É fundamental a este ter o conhecimento teórico consistente para saber fazer a mediação, para identificar o que a criança já sabe e partir desse conhecimento para uma evolução a outros níveis de aprendizagem. Deve-se considerar que cada criança é única, tem sua própria história e precisa apreender de maneira prazerosa, motivadora, instigante, posto que, "o professor deve estimular a criança, valorizando e acreditando que ela é capaz de aprender" (Soares, 2010, p. 45). O professor deve procurar envolvê-la num clima de afeto para despertar o prazer de descobrir, vivenciar, construir, reconstruir, confiar, ter expectativa positiva, proporcionando à criança uma aprendizagem significativa.

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Análise e contextualização do lúdico na educação infantil 

Discutir sobre o processo lúdico na Educação Infantil requer uma breve reflexão sobre o surgimento dessa palavra. O lúdico originou-se da palavra latina "ludus" que significa jogo. Esse conceito deixou de ser relacionado somente ao jogo devido a suas implicações relacionadas às necessidades lúdicas ultrapassarem as fronteiras do brincar espontâneo. Estudos de Kishimoto (2003) registram a participação das pessoas no surgimento dos jogos, com o resgate das brincadeiras em diversos países, surgindo, assim, um novo olhar para a criança moderna e que as brincadeiras passam a serem vistas além do brincar. O brinquedo educativo data dos tempos do Renascimento, mas ganha força com a expansão da Educação Infantil (Kishimoto, 2003). Entendido como recurso que educa, ensina e desenvolve de forma prazerosa o brinquedo educativo materializa-se no quebra-cabeça, destinado a ensinar formas ou cores, nos jogos de tabuleiro, que exigem a compreensão do número das operações matemáticas, nos brinquedos de encaixe, que trabalham sequência de tamanhos e de forma; nos múltiplos brinquedos e brincadeiras cuja concepção exigiu um olhar para o desenvolvimento infantil e materialização da função psicopedagogia. 

Assim, são também os móbiles destinado à função visual, sonora ou motora carrinhos com pino que se encaixam para desenvolver a coordenação motora, parlendas para expressão da linguagem, brincadeiras envolvendo música e dança para a expressão motora, gráfica e simbólica (KISHIMOTO, 2003). É importante ressaltar que, além das brincadeiras auxiliarem na construção da identidade cultural da criança, elas entram para o auge total, a partir dos enfoques que Piaget (1987) e Vygotsky (1998) deram as interações das crianças, por meio dos brinquedos. Ressalta-se também o aumento da difusão dos jogos didáticos nas escolas brasileiras, com a pedagogia dos jogos froebelinos. Esta prática foi adotada nos jardins de infância. "[...] Dessa perspectiva teve a noção de jogos livres nas brincadeiras cantadas, e de jogos orientados quando se utilizavam materiais como; bola, cilindro e o cubo" (KISHIMOTO, 2003 p. 99). Pesquisas como a de Kishimoto (2003) discorre sobre as crianças do período colonial, descreve a imagem dos meninos no espaço de engenho de açúcar a maneira como eles brincavam, da descrição dessas brincadeiras surge a mistura das culturas e do desencadeamento dos jogos tradicionais. Acredita-se que esses objetos citados pela a autora eram os mais usados da época, pois não havia tanta diversidade de jogos e matérias disponíveis para novas produções como atualmente. 

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O lúdico como ferramenta de ensino-aprendizagem na educação infantil 

De acordo com Piaget (1987), o jogo não pode ser visto só como divertimento, distração ou para passar o tempo. Nessa visão ele é um dos principais instrumentos que favorece ao desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e moral da criança. Partindo desse pressuposto, as práticas educacionais devem estimular a inteligência e orientar o aluno a descobrir e inventar, o professor como mediador do conhecimento deve provocar na criança a necessidade do conceito que ele precisa reconstruir. A fase inicial da vida escolar da criança é uma etapa importante na vida do ser humano, onde ela irá se deparar com o mundo do conhecimento. No entanto, a criança chega a escola com uma carga de saberes adquiridos em suas vivências sociais que devem ser levadas em conta pelo professor, que por sua vez deve ser compreensivo e tratar criança como criança. Vygotsky (1998) revela por meio de seus estudos que o trabalho pedagógico requer a oferta de estímulos externos e a mediação do professor em outras situações que não jogos, em que alunos possam se desenvolver a partir da observação e da interação com o outro como propõe. Conforme o discurso anterior, as práticas lúdicas não se resumem ao jogo ou ao brinquedo em si. Esse pensamento é bastante consolidado pela reflexão e interpretação que se faz do pensamento de Vygotsky sobre o desenvolvimento humano. Segundo Kishimoto (2003) na análise do livro "Aprendizado e Desenvolvimento, um processo sócio cultural", organizado por Marta Kohl, é possível observar a preocupação do autor com o desenvolvimento do ser humano, ao percebê-lo como resultado de um processo histórico-social, além de expressar o interesse em compreender diversos aspectos do comportamento humano. O brincar na Educação Infantil proporciona o desenvolvimento intelectual, emocional e social. Trabalhar o lúdico na sala de aula significa facilitar o desenvolvimento e a aprendizagem da criança. Os jogos e as brincadeiras lúdicas na escola executadas com a medição do professor fazem com que a criança aprenda construindo e desconstruindo. Brincando a criança consegue ter uma visão ampla sobre mundo. O sentido real, verdadeiro, funcional da educação lúdica estará garantido se o educador estiver preparado para realizá-lo. Nada será feito se ele não tiver um profundo conhecimento sobre os fundamentos essenciais da educação lúdica, condições suficientes para socializar o conhecimento e predisposição para levar isso adiante (ALMEIDA, 2002, p. 63).

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REFERÊNCIAS 

Almeida, M. E. PROINFO: Informática e formação de professores. Secretaria de Educação à Distância. Brasília: MEC Seed, v. 2, 2002. 

Aranão, I. V. T. A matemática através de brincadeiras e jogos. Campinas-SP: Papirus, 1996. 

Branco, A. V. Maciel D. A.; Queiroz, N. L. M. Brincadeira e desenvolvimento infantil: um olhar sociocultural construtivista. Paideia, 16(34), 169-179, 2006. 

Constato, E. P. M.; Sponda, E. A relação entre atividade lúdica na pré-escola de Colégios particulares. Artigo. Revista Interface: ensino, pesquisa e extensão. Ano 1, nº 1. Suzano-SP: 2009. 

Feijó, O. G. O corpo em movimento: Uma psicologia para o esporte. Rio de Janeiro: Shape, 1992. 

Fonseca, V. Introdução às dificuldades de aprendizagem. - 2 ed. rev. aum. - Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. 

Freire, P. (1978). Pedagogia do Oprimido. 30. Ed. Campinas: Vozes, 2012. Friedman, A. Brincar, crescer e aprender: o resgate do jogo infantil. São Paulo: Moderna, 1996.

Gil, A. C. Métodos e Técnicas de pesquisa social. 6ª edição. Atlas: São Paulo, 2008.

Kishimoto, T. M. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Pioneira, 1994.

Kishimoto, T. M. Jogos infantis: o jogo, a criança e a educação. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2003. 

Kishimoto, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 11. ed. São Paulo: Cortez, 2005. 

Maluf, A. C. M. Atividades lúdicas para a Educação Infantil: Conceitos, orientações e práticas. 1ª ed. Petrópolis: Vozes, 2008. 

Piaget, J. Aprendizagem e Conhecimento. In.: Aprendizagem e conhecimento. Tradução Equipe da Livraria Freitas Bastos. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1987.

Rossini, M. A. S. Pedagogia afetiva. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2001. Silva, C. M. S. Santos, C. A. B. Uma reflexão sobre a importância dos jogos e brincadeiras na escola, Revista Atlante: Cuadernos de Educación y Desarrollo, v. junio, p. 1-12, 2017. 

Soares, M. I. B. Alfabetização Linguística: da teoria à prática. Belo Horizonte: Dimensão, 2010. 

Vygotsky, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Fontes, 1989. 

Vygotsky, L. S. A formação social da mente. 33. ed. São Paulo: Fontes, 1998.  

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